Alta prevalência da hepatite B em população imigrante e refugiada de Goiás

Introdução: A cada dia cresce o número de imigrantes estrangeiros e refugiados em condição de vulnerabilidade individual, social e programática, favorecendo a manutenção e a aquisição de infecções transmissíveis, como a hepatite B. No Brasil, não foram identificados dados a respeito das condições de vida e saúde associadas à infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) em população de outras nacionalidades. Objetivo: Investigar a epidemiologia do HBV em populações imigrantes estrangeiras e refugiadas residentes no estado de Goiás. Métodos: Estudo observacional, de corte transversal e analítico, realizado na região do centro goiano. A coleta de dados ocorreu de julho de 2019 a janeiro de 2020, e foram recrutados 365 imigrantes estrangeiros e refugiados com idade igual ou acima de 2 anos. Os participantes foram entrevistados e testados para a detecção dos marcadores sorológicos do HBV: HBsAg, Anti-HBc e anti-HBs. Resultados: A maioria era do sexo masculino (57%), tinha entre 18 e 50 anos (79,2%) e com mais de 11 anos de estudo (55,8%). Quanto ao país de nascimento, 57,8% eram do Haiti e 35,6% da Venezuela, e majoritariamente estavam no Brasil há menos de 2 anos (71,2%). A prevalência de infecção e exposição ao HBV foi de 6,6% (intervalo de confiança de 95% [IC95%] 4,5–9,6) e 27,9% (IC95% 23,6–32,8), respectivamente, e mais de um terço (38,1%) não apresentou marcador sorológico para o HBV. Uso inconsistente do preservativo e relação sexual sob efeito de álcool ou outras drogas são alguns dos comportamentos de risco identificados. Conclusão: A taxa de HBsAg encontrada no estudo foi cerca de 18 vezes maior do que a encontrada na população em geral do Brasil. Além disso, este estudo evidenciou um cenário de vulnerabilidade, ressaltando a necessidade de políticas públicas de saúde que conheçam e sejam capazes de criar estratégias efetivas para prevenção e controle do HBV em imigrantes estrangeiros e refugiados.